Nos bastidores da capital federal o resultado de empate na votação dos embargos infringentes já era dado como certo, tanto que para os réus só bastava convencer Celso de Mello. Inicialmente ele parecia fechado para negociações, irredutível para as ofertas ele não seria tão fácil quanto os outros, mas todo homem tem seu preço, e o Zé sabia disso.
Quando Ana Laura retornava para casa dois carros fecharam seu caminho. Cena de filme. Um grupo de homens de terno e gravata e óculos escuros não tiveram trabalho para leva-la, que calmamente nem ameaçou reagir, algo que ela tinha aprendido no treinamento de segurança recebido por sua família. Do aparelho celular de Ana Laura um dos homens ligou imediatamente para o pai dela:
"Fala, Filha!"
"Não é ela... mas você já sabe o que tem que ser feito."
Do outro lado Celso não aparentava surpresa, como se ele soubesse que isso realmente pudesse acontecer.
Ele preferiu não envolver a polícia no caso, sabia que não ia adiantar, sabia que seria pior, sabia que a polícia fazia parte do esquema. Foi uma semana terrível. Sem notícias da filha e vendo seu nome nos meios de comunicação a todo instante, dando ao seu voto uma importância e um poder além do que ele merecia, esquecendo-se completamente que outros cinco ministros já tinham votado a favor. Após concluir o seu voto, Celso se trancou no banheiro e chorou em silêncio. Libertada em uma rua deserta de uma cidade satélite, Ana Laura chorava. Desolados, alguns brasileiros ainda tentavam chorar, mas não conseguiam.
Muitas vezes a ficção é mais doce que a realidade.
ResponderExcluirQuisera acreditar que fora realmente assim.
Belo texto, Herculano!
ResponderExcluirÉ a nossa realidade...o que fazer?
Grande abraço e sucesso!
simplesmente fantástico ...compartilho ...
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