Reencontrei, embora nem mesmo lembrasse que existia, uma caixa com antigos retratos, cartas, cartões, k7s, bilhetes, canhotos, recortes, embalagens e promessas. “Hoje eu joguei tanta coisa fora”, mas resta sempre algo no caminho. O meu passado não passa por mim, senta do meu lado, faz companhia, abre portais para realidades paralelas em que me vejo, mas não me reconheço. A casa não existe mais, são ruínas ou novas construções em que demoro a identificar o local, se era ali mesmo ou um pouco mais adiante, nunca tenho certeza. Um jovem casal de namorados atravessa a noite da cidade, conversam sobre canções e protelam o futuro (“as ruas desse lugar conhecem bem”). Sessões de velhos filmes italianos em algum cinema do centro resistirá ao clichê daquela tarde chuvosa. Suspiro sem sentimentalismos, enquanto guardo a caixa em algum canto do armário de sapatos, talvez eu a reencontre em algumas décadas e surpreso, pense: nem lembrava mais que ela existia.
Poderia ser uma playlist, mas são apenas referências esparsas
Tendo a Lua (Herbert Vianna/ Tetê Tillet)
Dublê de Corpo (Leoni/ Lulu Martin)
Minha Casa (Zeca Baleiro)
As Noites (Samuel Rosa/ Chico Amaral)
Mundo Perfeito (Nei Van Soria)
Aniversário (Roberto Mendes/Ana Basbaum)
Em uma noite quente, janelas escancaradas, testemunhado por uma lagartixa, cabeça levantada na parede, penso o que fiz da minha caixa de sapatos.
ResponderExcluirUm abraço,