Onde reside o limite da minha tolerância? Faço essa pergunta com o perfil de um compositor aberto no Spotify, observando a lista das suas músicas, recordando como foram importantes aquelas faixas em momentos diferentes da minha existência, sem saber ainda se suas posições políticas e os acontecimentos da sua vida pessoal interferem tanto nas minhas convicções que não posso clicar no play e ouvir suas canções indiscriminadamente, com quase nenhum peso na consciência. Será que devo fazer como minha mãe que, no melhor estilo Flávio Cavalcanti, destruiu um LP de Lindomar Castilho e atirou os pedaços no lixo em algum ponto traumático da minha infância na casa alugada da Avenida João Soldado. E a mera inocência não me exime de culpa? Jamais ter identificado em sua obra os elementos que o desabonam agora não me absolve no tribunal do Feicebuque? Se eu compartilhar no Instagram o que estou escutando serei cancelado por não cancelar? Alguém menos íntimo aparecerá na DM para me dar uma lição que não pedi exigindo empatia e solidariedade? Serei acusado de “corporativista”, “passador de pano” e “isentão”? Poderei não misturar a arte com o artista e conviver naturalmente com essa justificativa? Acabei de ler um conto em que o autor conclui dizendo que tudo não passava de um sonho, o que me deixou bastante irritado. O texto não estava nem tão bom, mas queria saber qual recurso criativo ele utilizaria para resolver todas as questões propostas ou se deixaria para o leitor a responsabilidade. Filho da puta, esse certamente não lerei mais, independentemente do que ele fizer na vida pessoal. Pior que isso apenas uma postagem com muitas perguntas, nenhuma resposta e uma mudança brusca de rumo.
Separar a obra do autor é fácil, desde que não saibamos nada sobre ele. A internet nos trouxe essa bênção - ou seria uma maldição?
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