(Julho, 2021)
Há coisas que implico de graça, idiossincrasias que fazem de mim esse velho casmurro sem par nem futuro. Já superei o “gratidão” no lugar do “obrigado”, apenas não utilizo. No entanto, creio que dificilmente poderei superar o “já deu tudo certo”, uma espécie de spoiler dos males momentâneos, uma frase mágica mais eficaz que Dipirona. É possível que essa implicância seja reflexo da minha ausência de religiosidade, não tenho certeza, mas não me diga isso.
(Agosto, 2021)
Há coisas que implico com algum custo, não comemorar aniversários e ainda assim ter que ser gentil com quem vem me parabenizar já faz parte do pacote que me aguarda anualmente, não contesto. Possuo sentenças padronizadas de agradecimento que distribuo no piloto automático. Recentemente deram para me felicitar com um tal de “feliz novo ciclo que se inicia”, com pequenas variações. Não sei bem o que isso significa, para essa frase ainda não tenho respostas prontas. Só sei que o mundo seria perfeito se a cada 365 dias fôssemos restaurados, reinicializados ou simplesmente atualizados e um novo ciclo realmente começasse.
(Setembro, 2021)
Há coisas que implico com muito custo, ser avaliado pelo número de seguidores nas redes sociais é uma delas. Vejo na programação das feiras literárias autores que são saudados por possuírem mais de um milhão de seguidores no Instagram, seguidores é a nova forma de medir um best-seller. Fenômeno semelhante ocorre nos programas de auditórios na TV (sim, eles ainda existem), quando uma atração é celebrada pelo número de visualizações no YouTube e não por discos vendidos (sim, eles também ainda existem). Já disse que sou um velho casmurro, algumas coisas me escapam, confesso; outras, deixo escapar.
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