Acho que eu devia ter nove anos quando minha mãe me segurou na cama para que meu pai abusasse de mim pela primeira vez. Não a culpei, sabia que ela precisava viver sem a brutalidade dele, mesmo que o preço para isso fosse a minha inocência. Durante mais de vinte anos foi assim, mas nunca me acostumei com aquilo, até me matar eu quis.
Meu pai não me deixava frequentar as aulas da professora Irene, como as outras crianças, nem brincar ou sair sozinha por aí. Era da roça pra casa, sempre sob o teu cabresto. Fugir, tentei muito, só que ele me encontrava toda mão, que nem rês desgarrada, e me batia cada vez mais e me estuprava ainda mais. Barriga eu peguei doze, somente cinco vingaram.
Todo mundo sabia o que acontecia dentro da nossa casa: a vizinhança, a família, e ninguém fazia nada. Meu pai era homem violento, temido na região, não havia quem bulisse com ele. Só uma vez eu não tive medo: quando ele quis que eu fizesse com minha menina mais nova o mesmo que a mãe fez comigo. Mas isso ele não ia fazer de jeito nenhum, no que dependesse de mim na minha filha ele não tocava a mão. Por causa da minha recusa, fui espancada três dias seguidos: apanhei muito, mas não me curvei. No último dia ele fez questão de amolar uma peixeira de 12 polegadas na minha frente, disse que era pra mim, que quando ele voltasse da feira ia me ensinar uma lição - ele só não imaginava quem acabaria naquela faca.
Na oportunidade que tive, dei oitocentos reais pro Galego mandar aquele infeliz pro inferno. Não era o que eu queria fazer, nunca foi, só que não tinha outra escolha. Galego nem estranhou o pedido, era como se já estivesse esperando, acho até que ele ficou feliz com o serviço, muita gente ficaria.
Meu pai não me deixava frequentar as aulas da professora Irene, como as outras crianças, nem brincar ou sair sozinha por aí. Era da roça pra casa, sempre sob o teu cabresto. Fugir, tentei muito, só que ele me encontrava toda mão, que nem rês desgarrada, e me batia cada vez mais e me estuprava ainda mais. Barriga eu peguei doze, somente cinco vingaram.
Todo mundo sabia o que acontecia dentro da nossa casa: a vizinhança, a família, e ninguém fazia nada. Meu pai era homem violento, temido na região, não havia quem bulisse com ele. Só uma vez eu não tive medo: quando ele quis que eu fizesse com minha menina mais nova o mesmo que a mãe fez comigo. Mas isso ele não ia fazer de jeito nenhum, no que dependesse de mim na minha filha ele não tocava a mão. Por causa da minha recusa, fui espancada três dias seguidos: apanhei muito, mas não me curvei. No último dia ele fez questão de amolar uma peixeira de 12 polegadas na minha frente, disse que era pra mim, que quando ele voltasse da feira ia me ensinar uma lição - ele só não imaginava quem acabaria naquela faca.
Na oportunidade que tive, dei oitocentos reais pro Galego mandar aquele infeliz pro inferno. Não era o que eu queria fazer, nunca foi, só que não tinha outra escolha. Galego nem estranhou o pedido, era como se já estivesse esperando, acho até que ele ficou feliz com o serviço, muita gente ficaria.
***
Fiquei mais de um ano presa sem me arrepender do que fiz. Que Deus me perdoe, mas a minha consciência eu trazia tranquila. Quando o juiz disse que eu era mulher livre outra vez, nem consegui acreditar que eu ia poder cuidar dos meus filhos, da minha lida.
Já apareceu gente me procurando pra fazer filme disso tudo, mas eu não tenho cabeça pra essas coisas. Já perdi vida demais, agora eu quero começar a sonhar.
Já apareceu gente me procurando pra fazer filme disso tudo, mas eu não tenho cabeça pra essas coisas. Já perdi vida demais, agora eu quero começar a sonhar.
Poderia ser ficção, mas é realidade:
MULHER QUE MANDOU MATAR PAI É ABSOLVIDA EM RECIFE
MULHER QUE MANDOU MATAR PAI É ABSOLVIDA EM RECIFE
Não gosto da morte. Menos ainda de matar. Mas há casos em que o racional fica para segundo plano. A absovição é uma acto de humanidade. Ainda bem que a justiça não foi cega;)
ResponderExcluirUm professor de Legislação ja tinha levado essa historia pra sala e comoveu todo mundo. O próprio promotor ter pedido a absolvição dela foi mesmo coisa pra cinema.
ResponderExcluirE a forma como vc retrata tudo isso é excelente, vou levar pra Facu hoje.
Que história terrível, Herculano! A Severina devia ser indenizada pelo Estado. Gostei do seu texto e espero que a história vire filme. Abraço!
ResponderExcluirMas e os executores?! Será que eles também não mereciam absolvição/ou redução de pena?!
ResponderExcluirQuer dizer, mesmo que por dinheiro, ele fizeram o que a delegacia do lugar não se moveu a fazer... Seria mesmo certo mantê-los nessa pena?!
OO"
Sim, foi um caso real e comovente, mas a forma que você escreveu dessa vida severina ficou mais tocante ainda. Bjs
ResponderExcluirnossa, que história!
ResponderExcluiracho que matar gente assim ainda
é pouco!
Muito triste isso tudo. Mas ainda bem que o promotor conseguiu fazer justiça, ainda que tenha demorado.
ResponderExcluirBjo
É realmente muito triste tudo isto.
ResponderExcluirFabiola.
http://blogencontrandoideias.blogspot.com/
Nó na garganta.
ResponderExcluirNão compreendo gente-bicho, portanto acho que teve o que mereceu.
Nossa, super forte essa história, é muito triste saber que há pessoas como esse homem no mundo!
ResponderExcluirAmei a historia, apesar de triste, eu no lugar dela faria igual, uma amiga minha já passou por isso, era triste, mas a mãe dela com a ajuda de todos entregou ele a polícia..
ResponderExcluirCheguei a ver essa notícia e adorei ver através dos teus olhos :)
Terrivel.....é a palavra correta nesse caso, eu por meus filhos viro bicho...Argh, me deu nojo desse hipocrita, mas a morte dele nao foi nada perto do que ira enfrentar diante de DEUS!
ResponderExcluirEu vi a notícia quando saiu nos jornais.
ResponderExcluirEssa descrição da história é bem dramática...parece coisa de filme mesmo. Triste, mas infelizmente é a realidade de muitas garotas que são abusadas por seus pais, tios, primos.
Obrigada pela visita!
Bjs, paz e boa semana!
Deveria haver sempre tolerância zero para violência doméstica...Uma tristeza...
ResponderExcluirAbraço
Eu confesso que nem sei dizer o que sinto. Sério mesmo. É lamentável esse tipo de coisa. Tanto a vida quanto a morte. Mas como culpar uma mulher diante de uma realidade tão ingrata? Eu não sei o que deveras sinto com relação a isso. Acho que só penso em fechar os olhos e abstrair de mim a realidade.
ResponderExcluirA história combinou com um livro que li há pouco "ratos" de gordon reece.
bacio
EXCELENTE, Herculano!
ResponderExcluirSe todos denunciassem publicamente como você o fez, quem sabe diminuiria esse absurdo. Esta é a pior das violências, porque muda e surda aos ouvidos alheios. Agora, neste exato momento, quantos ainda não passam por isto.
Parabéns!
Forte abraço!
Mirze
Um conto sobre uma Mãe Coragem extremamente linda.
ResponderExcluirHerculano, tu escreves muito bem! A leitura deste conto é muito gostosa. Gosto dos escritores tipo contadores de estória.
ResponderExcluirUm abraço daqui do sul do Brasil. Tenhas um bom dia.
o ser humano é a arte, a fonte dela, o retorno dela.
ResponderExcluirjamais vou poder julgar a relação de beleza que as pessoas criam nos fatos que observam. Espero apenas que isso tudo que libertou ela, por mais trágico que pareça, liberte os nossos olhos para a realidade, e não falo da abominação. É apenas uma esperança de que mais 'pessoas de verdade' (como ela!) existam.
Que historia mais triste, que tipo de ser humano era esse homem??
ResponderExcluirInfelizmente a sociedade só nos decepciona cada vez mais!!
Uma triste história...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Oi, Herculano!
ResponderExcluirUma história verdadeira, muito triste.
Seu texto é excelente.
Você tocou a realidade com sua palavras e a figurou nua e crua... sem maquiagens.
Abraço forte!
Meu Amigo.
ResponderExcluirJá faz algum tempo que não venho ler suas postagens.
E muito triste essa realidade que acabei de ler.
Na verdade existe muitos casos assim não me conformo com isso nunca .
Isso de pai não tem nada é sim um demonio que escapou do inferno e veio para o mundo fazer miséria .
Quanto sofrimento essa moça passou e quantos estão passando.
Um feliz final de semana beijos.
Evanir
Lindo o seu texto.
ResponderExcluirParece ficção.Mas infelizmente é a triste realidadde de tantas por esse mundo afora.Trabalhei no Fórum e vi muitos processos tramitando.
Abraço.
Sinceramente, fico feliz c/a absolvição.
ResponderExcluirQuem teria vivido toda essa história, sem levar consigo o gosto amargo de morte!?
bjo HN!
=)
OLOCO... pior q vc deixou tão bonito de se ler.. angustiante.
ResponderExcluirDura realidade ... Lamentavelmente, estes crimes hediondos ainda persistem em nossa sociedade ... Meu carinho, amigo Poeta, que teu domingo seja pleno de alegrias !! (e obrigada pela ilustre presença)
ResponderExcluirQue história...
ResponderExcluirUm beijo da Nita.
De boa tarde!
Solto um longo suspiro, um misto de raiva, de nojo. Quantas mais histórias destas não sabemos, porque não sai na mídia, em famílias de todos os níveis sociais?
ResponderExcluirFico com essa frase: "Já perdi vida demais, agora eu quero começar a sonhar".
O Dimas também escreveu sobre isso, um cronista do mesmo quilate teu, embora com temáticas afins, cada um tem uma identidade muito forte na escrita:
http://dimaslins.com/2011/08/21/perpetuo-socorro/
Abraço, Herculano!
triste realidade, hein man?
ResponderExcluirHerculano, texto sensacional, que, infelizmente, retrata a realidade de muita gente...
ResponderExcluirPerco um pouco da minha esperança na humanidade quando fico sabendo de mais uma história de abuso infantil e renovo um pouco dela quando vejo que a justiça foi além da letra fria da lei.
ResponderExcluirHerculano,
ResponderExcluirA ficção as x imita a vida, as x a torna tolerável, as x torna o intolerável possível de conhecido.
Forte abraço,
Anna Amorim,
Pedofilia é um crime absurdo e quando é cometido, como na maioria das vezes, por parentes ou pessoas conhecidas das vítimas torna-se ainda mais asqueroso. Nenhuma criança deveria ter sua inocência roubada dessa maneira. Nojo.
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