Já expliquei AQUI que o título deste blogue faz uma explícita referência ao cineasta Joaquim Pedro de Andrade e sua célebre resposta à pergunta “por que você faz cinema?”, que ganhou, inclusive, uma canção da Adriana Calcanhoto. Entre suas geniais enumerações, ele afirma que um dos motivos para exercer o seu ofício é por ter visto “SIMÃO DO DESERTO”, produção mexicana de 1965, do diretor espanhol Luis Buñuel. O filme é baseado na história de Simeon Stylites (Simeão Estilita), que viveu na Síria no século V e permaneceu no topo de uma coluna a pregar por quase quarenta anos. "Santos do Pilar" (em grego: stylos - "pilar") eram ascetas cristãos muito comuns nos primeiros anos do Império Bizantino, que acreditavam que a automortificação do corpo físico asseguraria a salvação de suas almas. Pouco popular no Brasil, Simeão é considerado santo pela Igreja Católica.
Na obra de Buñuel, Simão leva uma vida austera no alto de sua coluna: reza, jejua, penitencia-se e é constantemente tentado pelo diabo (que surge com as mais diversas formas). Seus milagres são vistos de maneira banal pela população local, que se alterna entre adoradores e detratores, principalmente por ele ditar regras de conduta. Após inúmeros embates, o diabo o leva até aos anos de 1960, numa boate de Nova Iorque, onde Simão, com a barba aparada e bem vestido, acompanha com enfado a performance de uma banda de rock.
O diretor critica com ironia o fanatismo religioso, um tema delicado, mas abordado sutilmente. A metade do orçamento que havia sido lhe prometido não permitiu que ele filmasse tudo que desejava: uma cena que deveria ter mil figurantes não passou de oitenta, a coluna de dezoito metros reduziu-se a uma de oito, a ideia das moscas que sobrevoariam a barba de Simão foi recusada pelo produtor. Por todas as limitações impostas, o filme não alcançou sequer uma hora de duração. O próprio Buñuel acreditava que se tivessem lhe dado mais recursos, talvez tivesse realizado a sua obra-prima, no entanto a precariedade é exatamente um dos elementos que mais fortalece a película, juntamente com a paisagem repetitiva do deserto, a fotografia em preto e branco e a ausência de uma trama convencional (com origem, motivação e conclusão). Premiado no Festival de Veneza em 1965, SIMÃO DO DESERTO é um filme cada vez mais atual e obrigatório.
Não sei se eu faria cinema por ter visto SIMÃO DO DESERTO, provavelmente eu teria uma reação contrária e desistiria de qualquer pretensão. Não me sentiria capaz de realizar nada semelhante. Mas Joaquim Pedro de Andrade não tem o seu nome entre os maiores do nosso cinema por mero capricho do acaso.
Na obra de Buñuel, Simão leva uma vida austera no alto de sua coluna: reza, jejua, penitencia-se e é constantemente tentado pelo diabo (que surge com as mais diversas formas). Seus milagres são vistos de maneira banal pela população local, que se alterna entre adoradores e detratores, principalmente por ele ditar regras de conduta. Após inúmeros embates, o diabo o leva até aos anos de 1960, numa boate de Nova Iorque, onde Simão, com a barba aparada e bem vestido, acompanha com enfado a performance de uma banda de rock.
O diretor critica com ironia o fanatismo religioso, um tema delicado, mas abordado sutilmente. A metade do orçamento que havia sido lhe prometido não permitiu que ele filmasse tudo que desejava: uma cena que deveria ter mil figurantes não passou de oitenta, a coluna de dezoito metros reduziu-se a uma de oito, a ideia das moscas que sobrevoariam a barba de Simão foi recusada pelo produtor. Por todas as limitações impostas, o filme não alcançou sequer uma hora de duração. O próprio Buñuel acreditava que se tivessem lhe dado mais recursos, talvez tivesse realizado a sua obra-prima, no entanto a precariedade é exatamente um dos elementos que mais fortalece a película, juntamente com a paisagem repetitiva do deserto, a fotografia em preto e branco e a ausência de uma trama convencional (com origem, motivação e conclusão). Premiado no Festival de Veneza em 1965, SIMÃO DO DESERTO é um filme cada vez mais atual e obrigatório.
Não sei se eu faria cinema por ter visto SIMÃO DO DESERTO, provavelmente eu teria uma reação contrária e desistiria de qualquer pretensão. Não me sentiria capaz de realizar nada semelhante. Mas Joaquim Pedro de Andrade não tem o seu nome entre os maiores do nosso cinema por mero capricho do acaso.
Pode-se assistir ao filme completo AQUI
Não pude assistir ainda...Mas vou!
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar o conhecimento.
Um abraço!
Belo texto...
ResponderExcluirBom aprender coisas novas...
Abraços, meu caro!
Não conhecia o filme e também não sabia que o nome do teu blog foi inspirado nele!kkkk!
ResponderExcluirQualquer hora dessas assisto o filme!
bjs, paz e boa semana!
Amigo Herculano, tenho este filme gravado num dvd, mas até havia esquecido dele. Agora, aproveitando o gancho procurarei vê-lo amanhã, que é feriado. Depois comentarei sobre ele aqui, no teu espaço.
ResponderExcluirUm abração. Uma boa noite.
Mas eu te pergunto: e porque voce nao faz poema? Brincadeirinha, passei para agradecer teu caarinho no meu blog., e ja mudei a foto, mas pergunto de novo: Vem dançar comigo agora? Abraços
ResponderExcluirO subtexto da vida é mesmo fascinante,
ResponderExcluirquem poderia imaginar que um simples nome de blog guardaria tanta informação e referências.
Incrível!!!
Eu sempre acho interessante como buscamos no outro algo para nós. Eu por exemplo escrevo por que descobri em Fernando Pessoa (Alvaro de Campos) o silêncio que me faltava e ali com aquela voz "rouca" me percebi e passei a rascunhar coisas, não com a mesma genilidade, mas com um sabor meu, só descoberto através dele que não outro, que não eu, que não ninguém. rs
ResponderExcluirbacio
Ps. Não conhecia o filme, mas o ar contestador dele me interessou.
Herculano!
ResponderExcluirNão conhecia o filme. Obrigada por compartilhar.
Beijos
Mirze
Bom mesmo é chegar por aqui e aprender, confesso que já fiz um trabalho com esse filme e achei um saco :x Mas foi mais pela obrigação de faze-lo :(
ResponderExcluirEi, obrigada :D faz tempos quero ver este filme.
ResponderExcluirÓtimo post. Um abraço!
obrigada por este buñel!
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