terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON


Benjamin nasceu velho. Um bebê idoso que vai progressivamente rejuvenescendo – no ritmo contrário da vida, mas não da morte. (Emula um pouco o mito de Obaluaê ao ser abandonado pelo pai e se tornar um Brad Pitt no esplendor de sua beleza na idade adulta). Também conheço pessoas que nasceram velhas, ou que parecem ter nascido velhas. Com suas ideias caducas são avessos às mudanças e à novidade. Num conservadorismo puritano empunham bandeiras gastas como a da “moral e dos bons costumes”, posando de baluartes da sociedade. Igualmente conheço pessoas que, diferentemente de Benjamin, parecem retroceder a cada dia, sempre mais imaturas e infantis, que não valem sequer uma simples conversa, além de outras que vivem numa eterna adolescência. Acho triste quando vejo uma criança travestida de adulto em algum programa de TV, e não me importo se é “prodígio” ou “madura demais para a idade”, para mim é apenas uma criança. E ainda há aquelas pessoas que tentam desesperadamente evitar o inevitável, com laser, peeling, botox, cremes, fórmulas mágicas de clínicas estéticas e cirurgiões de anúncios classificados. Alguém precisa dizer para elas que para manter o espírito jovem não é necessário academia.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DESCONSTRUINDO RUBEM FONSECA

(Fragmentos desordenados do conto Pierrô da Caverna, 1979)


Um vento forte soprava do mar;
eram cinco horas da tarde
de uma sexta-feira da paixão. Só isso



“Existem pessoas que não se entregam à paixão, sua apatia as leva a escolher uma vida de rotina, onde vegetam como ‘abacaxis numa estufa’, como dizia meu pai. Quanto a mim, o que me mantém vivo é o risco iminente da paixão e seus coadjuvantes, amor, ódio, gozo, misericórdia. Perguntou se eu estava escrevendo alguma coisa. Essa é uma pergunta que vivem nos fazendo, a nós escritores, como se não parássemos nunca de escrever; nós paramos, e às vezes damos um tiro na cabeça por causa disso. Eu nunca seria capaz de escrever sobre acontecimentos reais da minha vida, não só porque ela, como aliás a de quase todos os escritores, nada tem de extraordinário ou interessante, mas também porque eu me sinto mal só de pensar que alguém possa conhecer a minha intimidade. É claro que eu poderia camuflar os fatos com uma aparência de ficção, passando da primeira para a terceira pessoa, acrescentando um pouco de drama e comédia inventados etc. É isso o que muitos escritores fazem e talvez seja a razão pela qual a literatura deles é tão fastidiosa. Querer produzir as belas letras é tão ruim quanto querer ser coerente. Eu sou diferente a cada semana, a cada dia, sou contraditório, bruto e delicado, cruel e generoso, compreensivo e impiedoso. Para falar a verdade eu não sou um cínico, não sei ser irônico, sarcástico, sou tímido e orgulhoso, mas meu orgulho não tem arrogância nem ostentação, apenas auto-estima”.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ANOS INCRÍVEIS (1989/1993)

Fui uma criança “estranha”, que gostava do silêncio e de brincar com fantasmas (todos devidamente nomeados). "Sonso" foi a alcunha que mais escutei, embora louco e os seus sinônimos fizessem sombra; mais tarde passaram a me chamar de "cínico", de "metido", mas na verdade sou e sempre fui extremamente tímido. A timidez foi uma boa companheira, nada deixei de fazer por sua causa, se bem que, sem ela, suponho, poderia ter sido comido por mais mulheres. Escrevo isso porque ganhei recentemente de Sérgio Damião, amigo de Santo Amaro, todas as temporadas de ANOS INCRÍVEIS, o que me fez voltar, a contragosto, para a adolescência. A série retratava o cotidiano de uma típica família da classe média americana entre os anos 60 e 70, com todos os conflitos da época. Lembro de cada desventura, de cada desencontro, de cada canção. Cresci com aquelas personagens e me reconhecia mais nelas do que nos colegas do colégio, infelizmente. Enxergava o mundo à maneira de Kevin Arnold, com seu periscópio a observar tudo ao seu redor – só não me identificava com sua presunção. Sem muita nostalgia continuo assistindo aos episódios todas as noites, quase como um ritual, e trago a sensação de que pouco em mim mudou. Devo ser o mesmo menino sonso de Santo Amaro.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

ONDE MORA A SAUDADE

Santo Amaro (BA) é uma cidade de passado, de história. É uma cidade bucólica que vive da nostalgia dos seus moradores, do orgulho massapezeiro, do bairrismo por vezes exagerado. Uma cidade de energia, de magia. Santo Amaro é uma cidade aprazível, de uma tranquilidade quase modorrenta, onde o tempo corre com graça e com mais vagar, sem pressa de chegar. É uma cidade boa de descanso, de guarida, lugar pra apear e fincar raiz. Santo Amaro também é a terra do já teve, a terra do já foi – aforismo repetido com humor por gerações. É mãe de filhos ilustres, mas em Santo Amaro quem mora é a saudade. O visitante desavisado, num primeiro momento, pode ficar decepcionado. Afinal, em Santo Amaro não há muito que fazer, que se vê. Mas em Santo Amaro o seu melhor não é tangível, apenas se sente, e quando se sente é difícil viver sem. No entanto, a violência oriunda do narcotráfico, germe que já contaminou os grandes centros urbanos, invadiu suas ruas, seus becos, seus jovens; eliminando a paz e a calma do lugar. As autoridades competentes fecham os olhos e as pessoas as suas portas, não há mais a cadeira na calçada no final da tarde, somente a desconfiança.
Em Santo Amaro vive o medo.
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