segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

CORAÇÃO DESAJEITADO



 

                                                      desordenando
                                     tropeçando
                                                                         esquecendo
                                                              confundindo

até o coração é desajeitado





domingo, 9 de fevereiro de 2014

“FUNERAL PARA UM AMIGO”


Provavelmente eu sabia que isso iria acontecer um dia, como pais que presenteiam o filho com um casal de hamsters apenas para familiariza-lo com o conceito de perda e poder falar sobre um paraíso celestial cheio de hamsters, peixinhos dourados, porquinhos da índia e a vovó. Nos últimos anos, mais do que mera rotina, a primeira coisa que eu fazia pela manhã, a primeira mesmo, era regar meu bonsai e coloca-lo na janela durante algumas horas. Podava, trocava a terra, colocava adubo, tinha todos os cuidados necessários. Mas em um dia, simplesmente, tanto cuidado não adiantava mais. E aos poucos ele começou a secar: feito o amor. Pensei em substitui-lo. Fui à floricultura, olhei as espécies e desisti. Não daria certo. Não seria igual, sequer semelhante. Agora ele tá abandonado na área de serviço: galhos ressequidos num vaso. Não tenho coragem de joga-lo fora. Deveria haver um cemitério para plantas, como existem cemitérios para animais.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

NÚMERO PRIVADO

     Não atendo chamadas telefônicas de números privados. Acho um desaforo ligar para alguém sem se identificar. No entanto, ontem recebi várias e insistentes ligações sem identificação. Fiquei incomodado. E se fosse alguém conhecido que foi assaltado, que levaram o telefone celular, que estava utilizando um telefone emprestado de um estranho, que estava em alguma delegacia da cidade registrando um boletim de ocorrências, que o único número telefônico que recordava era o meu...? E se fosse?
     Em um momento pré-identificador de chamadas da história da comunicação humana, todo mundo atendia qualquer ligação em casa. O que mudou? Ligaram mais uma vez. Olhei: “não identificado”. Comecei a suar. E se fosse mesmo alguém precisando de ajuda? E se fosse? Respirei fundo. Atendi:
     – Alô?!
     – Senhor Herculano?
     – Pois não?!
     – Nós somos do Consórcio Nacional Ford e estaremos oferecendo uma oportunidade única para uma pessoa como o senhor...
     (Desliguei)
     Não era, realmente, alguém precisando de ajuda. Mas, e se fosse?
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