terça-feira, 2 de outubro de 2012

CHÁ DE ABU

      Fiz essa foto uma manhã no parque, fiz várias naquele dia, mas essa, com ele me olhando, foi a que eu mais gostei. Jamais poderia imaginar que a usaria num anúncio de “desaparecido”. Espalhei os cartazes pela cidade, perguntei pela vizinhança, mas ninguém sabia. Esperar era tudo o que eu podia fazer.
    Foi numa manhã de novembro, pouco antes das férias, voltei da escola e ele já não estava. “Fugiu”foi o que a minha mãe disse. Nas primeiras semanas, costumava sonhar com ele, saudável, alegre, parado numa esquina perto da minha casa, quando eu tentava me aproximar ele se afastava, e eu corria sem conseguir alcançá-lo, cada vez mais distante de mim. Acordava ofegante e assustado.
       O médico disse que era só questão de tempo, que ele estava sofrendo, que poderia passar a doença para alguém, que o melhor seria sacrificá-lo. Ainda insisti com  todo tipo de medicamento possível: nenhuma melhora. Deus sabe como foi difícil para mim levá-lo àquele lugar, mas não tive coragem de deixá-lo para trás.
     Agora eu fico aqui, do sétimo andar, aguardando o telefone trazer alguma notícia, observando os cães vadios que correm pelo parque, imaginando que ele talvez seja um deles, que talvez se lembre do quanto brincávamos ali. Enquanto eu tomo meu café frio.


Livremente inspirado na canção “Do Sétimo Andar”,
Los Hermanos.



 

26 comentários:

  1. Cara, me desculpe o elogio, mas tudo aí, a foto, a canção, o texto, tudo aí é muito bonito!...

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  2. Sempre gostei bastante da dupla Doug e Costelinha e só vc mesmo para imagina-los como protagonistas de uma das melhores canções dos Los Hermanos. A sutileza da letra, que pode ter várias interpretações, se mantém no seu texto, principalmente a ingenuidade da criança que acredita que o caozinho fugiu quando, para nós, é bastante claro que a mãe deu um sumiço no bichinho enquanto o filho tava fora, mas pensar que alguém ainda está vivo deve ser melhor do que sepultá-lo. Parabéns.

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  3. Quanta sensibilidade nas letras, prende ao ler, acredito que seja porque fala de apego ou quem sabe nos reporte a algum outro lugar onde a despedida foi inevitável e ao ler podemos quem sabe olhar mais uma vez pra trás. Gostei muito do teu blog, estou seguindo.

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  4. Essa versão da Érika Machado para a música combinou perfeitamente com o texto, melhor até que tivesse usado a versão original na doce voz ébria de Rodrigo Amarante.

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  5. Los Hermanos, cantam e encantam, só não percebe quem não os ouve com o coração, a cada toque da guitarra ou toque da voz plena de seu vocalista.
    Abraço fraternal
    Nicinha

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  6. Que triste, que triste... Mas lindo.
    Incrível a forma que você deu ao texto e a música é belíssima!
    Beijos, Cat.
    www.doceilusao.com/

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  7. Putzzz
    que lindo o que escreveu!
    pra comecar adoro los hermanos, e a musica!
    e sua cronica em cima dela ficou mto linda!
    parecia vivendo a situaçao! triste com meu animalzinho!
    adorei teu blog!
    opinandoemtudo.blogspot.com

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  8. Olá,

    Tudo bem?
    Adorei a maneira e o conteúdo da história real, que nos contou.
    Deve ter custado muito a você, mas o tempo se vai encarrregando de "apagar" essas feridas, essa saudade.
    É a 1ª vez, que venho aqui, e sou de Lisboa.

    Te desejo um dia maravilhoso.
    Beijos da Luz.

    "Luzes e Luares" - blog

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  9. "Do Sétimo Andar" é uma das músicas mais legais do Los Hermanos e uma das que suscita as maiores interpretações dos fãs, especialmente por causa de sua letra, tão bem escrita pelo Rodrigo Amarante. Gostei muito também do texto que a canção te inspirou a fazer. :)

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  10. quem que disse que quanto mais alto, mais (e)leva-se a solidão?



    abraço

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  11. Chato quando recebemos notícia de que não podemos fazer mais nada.
    Cadinho RoCo

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  12. Sempre gostei deste desenho do Doug (lembra parte de minha infância).

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  13. Sei bem como é isso. Nunca estamos preparados para lidar com perdas. Agora, ler você ouvindo esta interpretação de Érika Machado foi o máximo.Triste e belo.

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  14. Ah... sinto muito. Aconteceu algumas vezes. Minha mãe me disse quando eu era criança "Passou uma cachorra aqui e ele se apaixonou e foi morar com ela", chorei por dias e foi a primeira vez que descobri que o amor machucava as pessoas. Depois vieram outras mentiras sobre outros cachorros. Alguns voltaram pela minha insistencia dramática doentia e não havia outro jeito, senão eles me trazerem de volta!
    haha
    Beijos

    Melhor que Marley

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  15. Un bello texto y muy real, es muy meritorio que su inspiración se la haya dado esta canción.
    Herculano, mi blog cumple 3 años y mi libro se publica en España. Os dejo más noticias.
    Con ternura
    Sor.Cecilia

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  16. Esse texto me fez lembrar do "Teião" um coelho que criei na infância e que sumiu. Fiquei dias e dias sentada na porta da casa esperando que ele voltasse.

    Obrigada pela visita

    Beijocas

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  17. Hum... acho que nao saberia viver sem minha cachorrinha...
    Mas em geral... lidar com perdas é lidar com nossas carencias e fragilidade... e isso é de cortar o coraçao...

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  18. Nossa, que triste!
    E logo eu que sou apaixonada por animais.

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  19. Acho que quando alguém desaparece, seja pessoa ou animal, deve dar uma sensação horrível, porque sempre se terá o impulso de procurá-lo em meio à multidão. Um abraço!

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  20. Olá!
    Esse é um momento que partilho contigo, também eu já tive de ... ter coragem para fazer o que "supostamente" é o correto.
    Custa e só o tempo nos vai ajudar.
    Abraço, fica bem.

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  21. Muito linda a canção e o texto, comovente... é muito difícil perder um amigo, seja em que situação for... mas a vida é isso mesmo, uma eterna luta!
    Beijinho Herculano

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  22. Que legal, acho bacana histórias inspiradas em músicas...
    abraço

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  23. Suena bien el tema de Erika.
    Saludos
    David

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