segunda-feira, 27 de setembro de 2010

UMA RAZÃO

No site oficial da candidata Marina Silva estão enumeradas 43 razões para ela receber o nosso voto. Certamente, tenho bem mais que quarenta e três motivos. Basta observar seus adversários políticos, no famigerado horário eleitoral, em algum noticiário ou em qualquer debate, para se constatar que não é muito difícil encontrar uma razão o que já é mais do que suficiente.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

SANGUE NO CHUMBO

Em 1960, instalou-se em Santo Amaro da Purificação (BA) uma multinacional francesa de beneficiamento de chumbo, talvez numa tentativa de revitalizar a economia do município que, historicamente, sempre foi baseada no cultivo da cana-de-açúcar. No entanto, o que se viu foi a contaminação ambiental da cidade com a emissão de efluentes lançados indiscriminadamente através da chaminé da fábrica e nas águas do rio Subaé, além de centenas de trabalhadores considerados inválidos devido à exposição ao chumbo. Em 1989, a fábrica foi adquirida por uma empresa brasileira, que mesmo tendo herdado o passivo ambiental e trabalhista, não cumpriu com as suas obrigações. Ao encerrar as atividades em 1993, deixou para trás duzentos e cinquenta trabalhadores desempregados (que ainda aguardam, juntamente com seus familiares, a conclusão de várias ações judiciais) e cerca de quinhentas mil toneladas de resíduo industrial (escória).
           Uma pesquisa realizada em 1980, afirmou que 96% das crianças residentes a menos de 900 metros da fundição tinham concentração de cádmio  e chumbo no sangue acima do valor normal de referência, e os níveis encontrados no cabelo eram proporcionais às concentrações desses metais no solo. Outro dado informava que o nível de contaminação na cidade era vinte nove vezes maior que o tolerado pela Organização Mundial de Saúde.
           Como se já não bastasse, toda escória foi “doada” aos habitantes da cidade, que a usaram na construção, acabamento e nos quintais de suas residências. A prefeitura local, inacreditavelmente, também, usou grandes quantidades dessa escória para pavimentar ruas e lugares públicos de Santo Amaro, podendo ser encontrada facilmente sob os paralelepípedos e ao redor dos canos do abastecimento de água. A população local costuma, ainda, consumir carne e leite do gado que frequentemente entra nas dependências da fundição abandonada, para pastar e beber da água que se acumula nos antigos tanques de contenção na área da empresa, além das mandiocas e bananeiras que encobrem resíduos soterrados nas proximidades das instalações, e que servem de alimentação tanto para os santoamarenses quanto para as cidades vizinhas.
           O chumbo é um metal conhecido e utilizado desde a antiguidade (existem algumas menções no Velho Testamento, como em Êx 15:10). É usado na construção civil, na indústria bélica, na produção de soldas, fusíveis, revestimentos de cabos elétricos, entre outros. Também é incorporado ao cristal na fabricação de copos e outros utensílios domésticos, ressaltando seu brilho e durabilidade, embora possa contaminar os alimentos. Em virtude de sua elevada toxicidade e dos seus compostos, regulamentações ambientais cada vez mais restringem a sua aplicação.
           O chumbo não possui nenhuma função essencial no corpo humano e é extremamente prejudicial quando absorvido pelo organismo através da comida, ar ou água. Pode causar anemia, aumento da pressão sanguínea, alteração no sistema nervoso, abortos, arteriosclerose precoce, síndrome hepática, danos aos rins e ao cérebro. O chumbo é um elemento extremamente tóxico que não se dissipa, biodegrada ou deteriora, o que coloca Santo Amaro como uma das cidades mais poluídas do planeta.
           A Rede Band de Televisão realizou no começo de 2010 uma matéria denunciando o fato, que até o momento não foi ao ar devido a uma medida liminar conseguida pelo governo baiano impedindo sua veiculação. Enquanto isso, a população de Santo Amaro sofre suas consequencias, inclusive seus recém-nascidos, que vêm ao mundo com alto índice de cádmio e chumbo no sangue.
           O vídeo abaixo ilustra a situação e fotografias da contaminação podem ser vistas clicando AQUI.


MAIS INFORMAÇÕES:

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O ESPELHO PARTIDO


          Frequentemente, me identifico com algum personagem cinematográfico, principalmente em filmes de diretores que admiro. Também é comum alguém me dizer que determinado filme é a minha cara – embora ser comparado a Hannibal Lecter (de “O Silêncio dos Inocentes”) ou Tyler Durden (de “Clube da Luta”) não seja exatamente algo lisonjeiro.
          Às vezes, posto no meu perfil a imagem de um desses personagens, dependendo de como eu esteja me sentindo no momento. Recentemente me perguntaram porque eu tinha colocado o assassino psicótico Anton Chigurh (interpretado por Javier Bardem em “Onde os Fracos Não Têm vez”) na foto do meu perfil, respondi apenas que seria melhor nem saber.
          Como de praxe, quis listar os cinco personagens com os quais eu mais me identifico e surpreendentemente não me deparei com nenhum galã ou herói. Inconscientemente, os tipos selecionados eram bem díspares. Concluí, ainda, que seria impossível alguém realmente compreender quem eu sou a partir dessa lista, mas para quem quiser tentar:

1 – Bruno Ricci (Enzo Staiola em “Ladrões de Bicicletas”)
2 – Joe Buck (Jon Voight em “Midnight Cowboy”)
3 – Alvy Singer (Woody Allen em “Annie Hall”)
4 – Travis Bickle (Robert De Niro em “Taxi Driver”)
5 – Carl Fredricksen (o velhinho misantropo de “Up”)

sábado, 11 de setembro de 2010

ALÉM DOS MUROS


          A dupla de grafiteiros, Leonardo Delafuente e Anderson Augusto, que assina suas obras como 6emeia (o momento em que os ponteiros do relógio se unem e apontam para baixo), realiza intervenções originais e bem humoradas em bueiros, postes e tampas de esgoto dos bairros paulistanos desde 2006, escapando do lugar-comum que impregna os muros das grandes cidades, e colhe elogios de importantes publicações europeias. Agora só falta a população conscientizar-se e deixar de atirar lixo nas ruas, principalmente da janela dos carros.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ANTES DO CREPÚSCULO

          Por acaso, Jesse reencontra o poema do milk-shake, que o vagabundo vienense escreveu às margens do Danúbio, dentro de um livro. A página envelhecida não esconde a inevitabilidade do tempo. Ao reler os versos, imagina que talvez não ame Celine como amava, talvez nem ela também o ame. Melhor seria que eles se separassem antes que descobrissem a efemeridade do amor, antes que o silêncio falasse por eles, antes que tudo se tornasse rotina e comodismo. Mas ele apenas limita-se a devolver o poema ao livro, e desce para o jantar.

Ilusões à luz do dia
Cílios de limusine
Oh, seu belo rosto, querida
Derramar uma lágrima na minha taça de vinho
Olhe nos meus grandes olhos
Veja o que você significa para mim
Docinhos e milk-shakes
Sou o anjo das ilusões
Sou o desfile das fantasias
Conheça meus pensamentos
Não mais os adivinhe
Você não sabe de onde eu vim
Não sabemos para onde vamos
Estamos juntos na vida
Como dois galhos num rio
Sendo levados pela correnteza
Eu te carrego
Você me carrega
Podia ser assim
Você não me conhece?
Você já não me conhece?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ÁLBUM DE FAMÍLIA


          Nas caixas abandonadas no sótão havia alguns álbuns. Eram dezenas de fotografias amareladas (de pessoas com sorrisos amarelos em suas poses programadas). Entre tantas  polaroids desbotando, encontrei uma dela: o jeito esnobe,  o olhar tímido, o enquadramento equivocado. Ela foi o melhor de mim e isso, por incrível que pareça, não é um elogio. p

Esse e outros microcontos em MAIS UMA DOSE

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